Éris (Planeta AnÃo)


Éris (Planeta Anão e Plutóide)




Imagem do Observatório Keck

Concepção Artística da NASA
Planeta Anão
Características orbitais
Semi-eixo maior 67,668 1
Periélio 37,77 UA
Afélio 97,56 UA
Excentricidade 0,441 77
Período de revolução 203 500 d (557 a)
Velocidade orbital média 3,436 km/s
Inclinação 44,187°
Número de Satélites 1
Características físicas
Diâmetro equatorial 3094 km
Área da superfície  ? km²
Volume  ? km³
Massa  ? kg
Densidade média  ? g/cm³
Gravidade equatorial  ? g
Dia sideral > 8 h ?
Velocidade de escape  ? km/s
Albedo -0,6
Intervalo de Temperatura -248ºC a -232ºC
média: -243ºC
Composição da Atmosfera
Pressão atmosférica  ?


Éris, conhecido oficialmente como 136199 Eris, é um planeta anão[1] nos confins do sistema solar, numa região do sistema solar conhecida como Cinturão de Kuiper[2]. É o maior planeta-anão do sistema solar e quando foi descoberto, ficou desde logo informalmente conhecido como o "décimo planeta", devido a ser maior que o então planeta Plutão. Devido a nova categoria introduzida pela União Astronômica Internacional, Éris também passa a ser um plutóide (veja a definição de plutóide em Plutão)

Éris tem um período orbital de cerca de 560 anos e encontra-se a cerca de 97 UA do Sol, em seu afélio. Como Plutão, a sua órbita é bastante excêntrica, e leva o planeta a uma distância de apenas 35 UA do Sol no seu periélio (a distância de Plutão ao Sol varia entre 29 e 49,5 UA, enquanto que a órbita de Netuno fica por cerca de 30 UA).

Mitologia


Éris (c. 520 a.C.)
Éris (c. 520 a.C.)

Éris é a deusa da discórdia. O planeta anão foi chamado assim porque a sua descoberta lançou a discórdia entre os astrónomos quanto à definição de um planeta e causou, indiretamente, a descida de estatuto de Plutão de "planeta" para "planeta anão". Na mitologia grega é famosa por ter causado, indiretamente, a Guerra de Tróia.[3] Era também conhecida por acompanhar o seu irmão Ares (Marte) para o campo de batalha e, quando os outros deuses iam embora, ela ficava rejubilando-se da carnificina.

Antes de receber o nome tinha a designação provisória de 2003 UB313, que é uma matrícula atribuída automaticamente de acordo com o protocolo da União Astronómica Internacional (UAI) para os planetas menores. No entanto, a probabilidade de que esse corpo celeste fosse classificado como um planeta levou a que a UAI não autorizasse nenhum nome, dado que não era claro se seria classificado como um planeta principal ou não. Caso fosse, a UAI só aprovaria nomes da tradição greco-romana, tal como acontece com todos os outros planetas do Sistema Solar. A indecisão levou a que o nome "Xena" (uma suposta personagem da mitologia grega) fosse adotado popularmente; essa suposta personagem mitológica foi criada especialmente para a série de TV  Xena, A Princesa Guerreira.[4] Um dos nomes mais sugeridos para Éris era o de Perséfone (a Proserpina romana), mulher de Plutão.


História de observação e exploração

Imagens espaçadas no tempo que mostram o movimento de Éris (num círculo) em relação ás estrelas.
Imagens espaçadas no tempo que mostram o movimento de Éris (num círculo) em relação às estrelas.

Um grupo de cientistas formado por Michael Brown, Chad Trujillo e David Rabinowitz, utilizando o observatório instalado no monte Palomar na Califórnia, varriam o céu à procura de grandes corpos celestes no sistema solar exterior. Descobrindo-se, assim, vários planetóides, tais como Quaoar, Orco e Sedna.

Observações de rotina feitas em 21 de Outubro de 2003, encontraram um novo corpo celeste; devido, contudo, ao seu movimento extraordinariamente lento, não foi dado como candidato, vez que o sistema de procura automática em imagens excluía todos os astros que se movessem a menos de 1,5 arcosegundos por hora, por forma a reduzir o número de falsos candidatos.

Contudo, Sedna foi descoberta a mover-se a apenas 1,75 arcosegundos por hora, o que levou a equipe a decidir re-analisar manualmente dados já registados, considerando um valor menor de movimento angular. Em 5 de Janeiro de 2005, esta nova análise revelou a existência de Éris, confirmando o seu lento movimento pelo espaço.

O novo astro, com uma magnitude aparente de cerca de 19, é suficientemente brilhante para poder ser visto mesmo com um telescópio modesto. A inclinação da sua órbita é responsável por não ter sido descoberto até então, dado que a maioria das pesquisas para corpos do sistema solar exterior concentravam-se no plano da eclíptica, no qual é encontrada a maioria dos corpos do sistema solar, incluindo a Terra.

A proporção da distância entre os diferentes planetas do sistema solar e Éris.
A proporção da distância entre os diferentes planetas do sistema solar e Éris.

Observações subsequentes foram levadas a cabo, de forma a estimar a distância e o tamanho, o que levou a que a sua descoberta não fosse anunciada antes de terem sido determinadas com maior exatidão a dimensão e a massa de Éris.

Entretanto, foi intempestivamente anunciada, por um outro grupo na Espanha, a descoberta de um corpo celeste apelidado de 2003 EL61, precisamente o que a equipa norte-americana estava a observar, o que levou esta a acusar o grupo espanhol de falta de ética ao anunciar, de forma precipitada, a descoberta de Éris no dia 29 de Julho de 2005. No mesmo dia, outros grandes planetóides foram anunciados: 2003 EL61 e 2005 FY9, lançando a confusão na imprensa com uma enxurrada de descobertas importantes ao mesmo tempo.

Órbitas de Éris e Plutão com datas e distâncias em UA.
Órbitas de Éris e Plutão com datas e distâncias em UA.
Örbita de Éris
O diagrma ilustra a órbita do planeta anão Éris (azul) comparada com as dos planetas Saturno, Urano e Netuno e do planeta anão Plutão (branco/cinza). Os segmentos de órbita abaixo da eclíptica estão em tom mais escuro, e o ponto vermelho é o Sol. O diagrama da esquerda é uma visão polar, enquanto que os diagramas da direita são diferentes vistas da eclíptica.

Apesar de previamente terem sido descobertos grandes planetóides no Cinturão de Kuiper, eram todos menores em dimensão quando comparados com Plutão. Pelo contrário, Éris revelou-se maior, lançando o debate sobre a sua classificação como décimo planeta, tal como pretendido pelos seus descobridores ou como um simples planetóide.

A indefinição prolongou-se por largos meses, lançando a discórdia entre os astrônomos do que seria um planeta. Pouco tempo depois, no encontro da UAI, não houve consenso quanto à classificação deste novo mundo como um planeta principal. No entanto, onze dos dezenove membros apoiaram que fosse categorizado como planeta, enquanto que 6 membros propuseram que se reduzisse o número de planetas principais para oito, retirando também o estatuto aplicado a Plutão. Até a decisão final, todos os corpos celestes a orbitarem para além de Plutão serão classificados apenas como objetos transnetunianos.

A UAI fez uma reunião geral em Agosto de 2006: na proposta inicial da definição do termo "planeta", Éris seria classificado como um planeta. No entanto, a pressão de um grupo de astronômos fez com que uma nova definição fosse elaborada, a qual acabou por ser aprovada unanimemente, atirando Éris, Ceres e Plutão para um novo grupo de corpos celestes - os "planetas-anões", que não são reconhecidos como planetas principais.[5]  Mais tarde 2003 UB313 recebeu o nome da deusa grega da discórdia, Éris.[6]

Novas observações reveladas em Outubro de 2005 revelaram que Éris tem uma lua, Disnomia. Esta lua poderá ajudar na determinação da massa de Éris com maior precisão.

Geologia planetária

O espectro infravermelho de Éris comparado com o de Plutão, mostra semelhanças visíveis entre os dois corpos. As setas denotam linhas de absorção de metano.
O espectro infravermelho de Éris comparado com o de Plutão, mostra semelhanças visíveis entre os dois corpos. As setas denotam linhas de absorção de metano

Éris é o maior corpo celeste conhecido  para além da órbita de Neptuno, logo, maior que Plutão. Tal como Plutão, é composto de uma mistura sólida de gelo e rocha. Ambos podem ser vistos como objetos do cinturão de Kuiper ou como planetas gelados, apesar de Éris ser do tipo disperso, ou seja, terá sido formado na parte interior do cinturão, mas atirado para uma órbita mais distante devido a uma possível influência gravitacional de Netuno.

O albedo de Éris não é totalmente conhecido e o seu tamanho real não pode ser determinado. Contudo, os astronômos calcularam que, numa oposição extrema,  Éris refletindo toda a luz que recebe, seria mesmo assim maior que Plutão (2390 km).

Para ajudar a determinar melhor a dimensão deste objecto celeste, foram feitas análises preliminares com recurso a observações feitas com telescópios espaciais: o Spitzer e o Hubble. O primeiro telescópio indicou que Éris seria 20% maior que Plutão (2274 km); o segundo indicou que seria apenas 1% maior indicando um albedo extraordinariamente elevado.

Em Fevereiro de 2006, um artigo da revista Nature da autoria de um grupo de cientistas alemães indicou que Éris tem 3000 km ±300km ±100km, ou seja, algo do tamanho da Lua e 30% maior que Plutão. Para determinar o diâmetro, o grupo usou observações da emissão térmica de Éris. A primeira margem de erro tem em atenção os erros de medida, e a segunda devido a velocidade de rotação e a orientação do astro serem desconhecidas.

Estes cientistas determinaram que o albedo é muito semelhante ao de Plutão, ou seja, é de 0,60 ± 0,10 ± 0,05. Sugerindo que o metano permite que a superfície gelada seja bastante refletora.

Éris parece ser algo análogo a Plutão e a Tritão (a grande lua de Neptuno) devido à presença de gelo de metano.

Ao contrário do aspecto avermelhado de Plutão e Tritão, o planetóide Éris parece ser cinzento. Isto parece ser devido à enorme distância de Éris em relação ao Sol o que permite que o metano condense, cobrindo uniformemente toda a superfície.

O metano é muito volátil e a sua presença mostra que Éris se manteve sempre nos confins do sistema solar, ou seja, sempre foi um mundo extremamente frio levando a que o gelo de metano subsistisse. Ou, talvez, desfrute de uma fonte interna de metano que liberte o gás para a atmosfera; note-se que 2003 EL61, um outro corpo celeste da mesma zona do sistema solar, revelou a presença de gelo de água, mas não de metano.

Dados não oficiais com recurso às observações do telescópio Hubble indicaram que Éris teria um albedo elevado, sugerindo que a superfície é composta de gelo fresco.


Atmosfera e clima

Apesar de Éris se encontrar cerca de três vezes mais afastado do Sol que Plutão, chega a estar suficientemente perto do Sol para que parte da superfície se descongele e forme uma fina atmosfera; no entanto não se sabe se isto acontece realmente.

Devido a sua órbita que se aproxima até 37,8 UA do Sol e se distancia até 97,61 UA, as temperaturas devem variar entre -232 e  -248 graus centígrados.

Éris está tão afastado do Sol que este último, nos céus daquele mundo, deverá aparecer apenas como uma estrela brilhante.


Disnomia (satélite)

A lua de Éris, Disnomia, foi descoberta a 10 de Setembro de 2005. Estima-se que Disnomia seja oito vezes menor e sessenta vezes menos brilhante que Éris e que orbite esse último em cerca de quatorze dias.

O sistema Éris-Disnomia parece semelhante ao sistema Terra-Lua. Apesar das dimensões mais reduzidas dos dois objetos, o satélite de Éris está dez vezes mais próximo do planeta que orbita que a Lua da Terra apesar de ser oito vezes menor que a nossa lua.

Disnomia ao fundo de Éris
Disnomia ao fundo de Éris

Disnomia é o satélite natural de Éris. O nome significa "desordem" em grego (no original, ??s??µ?a dysnomia), uma referência à entidade mitológica que, segundo Hesíodo, era filha de Éris, a Discórdia.

Em 2005, uma equipe nos telescópios Keck no, Hawaí, fez observações aos quatro corpos celestes transneptunianos mais brilhantes (Plutão, 2005 FY9, 2003 EL61 e Éris) usando um novo sistema óptico. Em 10 de Setembro, as observações revelaram uma lua orbitando Éris. Na altura da descoberta, Éris não tinha nome e era conhecida, popularmente, como Xena, assim a lua ganhou o apelido de Gabrielle pelos seus descobridores, a companheira de Xena na série de TV Xena, A Princesa Guerreira. Formalmente em setembro de 2006 foram definidos os nomes oficiais de Éris - Palneta Anão e Disnomia - satélite de Éris.

Os astronômos sabem que três dos quatro mais brilhantes objectos transnetunianos possuem satélites, enquanto que cerca de 10% dos membros mais tênues da faixa terão satélites, o que leva a acreditar que colisões entre grandes corpos celestes transnetunianos tenham sido frequentes no passado. Impactos entre corpos da ordem dos 1000 km de diâmetro espalhariam grandes quantidades de material que se aglomerariam numa lua. Um mecanismo semelhante formou a Lua da Terra.



 Referências

  1. ? UAI (2006-08-16)The IAU draft definition of "planet" and "plutons" Press release. Acessado em 16-08-2006
  2. ? Classificação orbital da MPC Agosto de 2006
  3. ? Blue, Jennifer. Astrogeology Hot Topics — "2003 UB313 named Eris". U.S. Geological Survey
  4. ? Mckie, Robin (Julho 31, 2005). "The little rock causing a galactic storm". The Guardian Digital Edition
  5. ? (134340) PLUTO, (136199) ERIS, AND (136199) ERIS I (DYSNOMIA)
  6. ? known dwarf planet named Eris