cruzeiro do sul (Jardim do CÉu na Terra)

 

Painel do Cruzeiro do Sul (pdf)

 

O Cruzeiro do Sul

 

É fato que a observação do céu desde muito tempo esteve presente na vida das grandes civilizações antigas, hoje, porém não parece ser uma prática muito corriqueira a observação dos astros. Através da leitura do céu, nossos antepassados conseguiam prever a chegada de chuvas, se organizarem a respeito ao plantio e a colheita, e sabiam também o término de cada época do ano. As constelações eram e ainda são, para algumas comunidades, uma espécie de guia.

Mas afinal, o que é uma constelação?

Os antigos acreditavam que as estrelas estivessem fixas, pois mantinham a mesma posição umas em relação às outras e estavam dispostas em uma redoma que envolvia a Terra, daí surgiu o que chamamos hoje de esfera celeste. Uma constelação era definida como sendo um conjunto de estrelas, que imaginariamente formavam figuras no céu, e que eram representadas por objetos, animais ou seres mitológicos (figura1).

 

 

Figura 1: As Constelações na Esfera Celeste

 

 

Mas esse conceito mudou em 1930 devido a Eugène J. Delporte, que definiu como sendo “ a divisão da esfera celeste, geometricamente, em 88 regiões   ou partes” (figura 2) .

 

Figura 2: Demarcação moderna das Constelações.

 

Vale lembrar que os nomes dados às constelações que equivalem a alguns objetos, animais e pessoas, não são triviais na hora de encontrá-las no céu, pois são na verdade, desenhos arbitrários que representavam elementos da cultura dos povos antigos, que viam nas estrelas a representação de figuras, e lhes davam significados. Por exemplo, temos o período das grandes navegações, no qual as constelações “descobertas” receberam os nomes dos mais importantes instrumentos utilizados na época, como as constelações de telescópio e da bússola.

Mesmo aqueles que não são grandes admiradores do céu ou não detém tanto conhecimento astronômico, aposto que já ouviram e até mesmo observaram a constelação do Cruzeiro do Sul, não é mesmo? Pudera, mesmo sendo a menor constelação de todas, ela é a mais conhecida por nós do hemisfério sul.

O Cruzeiro do Sul, em latim Crux Australis, é uma das 88 constelações conhecidas oficialmente pela União Astronômica Internacional. Antigamente, o cruzeiro era considerado parte da constelação de Centauro, porém foi considerada uma constelação própria devido a sua disposição peculiar e ao brilho de suas estrelas.

Fazendo jus ao seu nome, essa constelação forma no céu a figura de uma cruz e é umas das constelações mais fáceis de encontrar, posteriormente algumas dicas serão fornecidas para que você mesmo possa encontrá-la, claro, se estiver no hemisfério sul, já destacado em seu nome ou em regiões próximas ao equador.

A primeira pessoa a fazer uma descrição da representação de uma cruz no céu, foi João de Faras, também conhecido como Mestre João, o astrônomo da expedição comandada por Dom Pedro Álvares Cabral em 1500. Ele foi o primeiro também a estudar o céu brasileiro, já que, na época, era imprescindível a observação dos astros para dar rumo à embarcação.

O Cruzeiro do Sul é formado aparentemente por quatro estrelas, que formam os braços da cruz e possuem diferentes magnitudes. Quando falamos em magnitudes das estrelas, na astronomia, estamos nos referindo ao brilho delas. Há ainda, uma quinta estrela, que não faz parte da formação do braço da cruz, mas tem a mesma importância que as demais, pois é através dela que conseguimos identificar o verdadeiro cruzeiro, ela é chamada de Intrometida ou Intrusa.

Além de suas principais estrelas, há também outros objetos celestes de interesses astronômicos, que dependendo das condições de luminosidade ou mesmo do equipamento utilizado, podem ser vistas, por exemplo, o aglomerado estelar, conhecido como Caixa de Joias e uma nebulosa escura, o Saco de Carvão.

Os nomes das estrelas da constelação são dados de acordo com as letras do alfabeto grego: Alpha, Beta, Gama, Delta e Epsilon-Cruci. Na maioria das constelações, a estrela mais brilhante recebe o nome de Alpha, a primeira letra do alfabeto grego, depois a segunda estrela mais brilhante da constelação é chamada Beta, e, assim por diante. Há também os nomes popularmente mais conhecidos: Estrela de Magalhães, Mimosa, Pálida, Rubídea e a Intrometida (figura 3). Na figura 4, aparece o dispositivo Constelação 3-D Cruzeiro do Sul, simulando a constelação vista da Terra.

 

Crédito da Imagem: http://en.wikipedia.org/wiki/Crux#/media/File:Deep_Crux_wide_field_with_fog.jpg com adaptações.

Figura 3: Representação do Cruzeiro do Sul.

 

 

Figura 4: Constelação 3-D Cruzeiro do Sul.

 

 

 

O cruzeiro é realmente uma cruz?

 

 

As estrelas que formam uma determinada constelação, ao contrário do que se pensa, não estão próximas de nós e nem entre si, podendo estar na verdade, muito distantes umas das outras. Para ter-se uma noção de distância, utilizamos como exemplo a nossa estrela, o Sol, que está a 8 minutos-luz de nós, ou seja, a luz do Sol demora 8 minutos para chegar aqui na Terra, com uma velocidade “modesta” de 300.000 km/s.

Quando olhamos a constelação do cruzeiro, formamos facilmente com as estrelas, a figura de uma cruz e isso nos faz automaticamente pensar que as estrelas estão próximas entre si, quando na verdade estão muito distantes.

Para termos uma noção de distância dessas cinco estrelas em relação à Terra, temos a Estrela de Magalhães, a mais brilhante da constelação, que por exemplo, fica a 359 anos - luz da Terra, a Mimosa está ainda mais distante, a 424 anos- luz, Rubídea a 88 anos-luz ; Pálida a 257 anos-luz, e Intrometida a 58 anos-luz.

Então, vendo as estrelas do Cruzeiro do Sul, fora do Sistema Solar, não veríamos a formação de uma cruz, ou melhor, elas não teriam relação entre si, como mostra o dispositivo da constelação 3-D Cruzeiro do Sul visto de outro ângulo. (figura 5).

 

 

Figura 5 : Cruzeiro do Sul visto fora do Sistema Solar.

 

Orientação a partir do Cruzeiro do Sul

 

 

O Cruzeiro do Sul pode também ser utilizado para a localização. A figura 6, abaixo, mostra como proceder, a primeira etapa é localizar o Cruzeiro do Sul no céu, se você não conseguir, peça ajuda para alguém mais experiente. Encontrando a constelação, a estendemos na direção do pé da cruz, em aproximadamente 4,5 vezes, encontrando assim, o pólo celeste sul, nesse ponto traçaremos uma linha perpendicular ao solo e localizaremos o ponto cardeal sul, e os demais por consequência.

 

 

CRédito da Imagem: Aplicativo Stellarium com adaptações.

Figura 6- Localização pelo Cruzeiro do Sul

 

 

Ao observar o céu noturno, temos a sensação que o Cruzeiro do Sul e as demais estrelas e constelações giram em torno do pólo celeste sul, e se ficarmos durante uma noite toda olhando para o céu, verificaremos que as estrelas fazem um círculo em torno de um ponto ( figura 7), o pólo celeste sul. Se você não observou isso ainda, faça o teste.

 

 

Figura 7: Movimento do Cruzeiro do Sul durante uma noite

 

Créditos das figuras: Figuras, 1, 2, 4, 5 e 7 são do Centro de Divulgação da Astronomia - Centro de Divulgação Científica e Cultural - Universidade de São Paulo - Campus de São Carlos - Área 1.

Autoria: Tamires Cristina de Souza

Revisão: Centro de Divulgação da Astronomia

Data: 9 de junho de 2015