O fascínio da humanidade por outras dimensões

 

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O fascínio da humanidade por outras dimensões

Publicado por carollfts@gmail.com - Segunda-feira, 14 Setembro de 2015

Tema de filmes de ficção científica e objeto de rigorosas pesquisas, as viagens através do tempo serão discutidas neste sábado no Observatório Dietrich Schiel da USP, em São Carlos – um centro de divulgação científica voltado para a expansão do conhecimento das ciências astronômicas

SUZANA XAVIER
De São Carlos

 

Viagens através do tempo. Esse tema fascinante, que há centenas de anos desperta a curiosidade de cientistas e leigos, será debatido neste sábado, dia 19, às 21 horas, durante a Sessão Astronomia, promovida pelo Observatório Dietrich Schiel, ligado ao Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da USP, em São Carlos. O evento é uma das atividades oferecidas à comunidade em geral pelo observatório, com o objetivo de divulgar a astronomia (leia mais abaixo) .

“Os cientistas acreditam que, em tese, haveria a possibilidade de viajar para o futuro, mas não para o passado”, informa a monitora do observatório Karin Talisin Targas, que fará a palestra sobre viagem no tempo. Lembrando que a ciência já consegue fazer com que fótons viajem no tempo, Karin destaca, porém, que “ainda estamos muito longe” da realização do sonho de transferir seres humanos de uma época para outra.

Cinema – Na palestra, Karin vai explorar também a abordagem que filmes e seriados fazem sobre o tema – especialmente Doctor Who , série de ficção científica produzida pela BBC de Londres desde 1963, que apresenta as aventuras de Doctor, um alienígena que viaja pelo Universo numa máquina do tempo. “Geralmente, nos filmes, a viagem é feita através de uma máquina, como em Doctor Who .”


Atividades do Observatório: ciência para a comunidade

Ela considera que, no cinema e na televisão, os filmes de ficção científica que abordam o tema das viagens intertemporais possuem “alguma base em física”, mas contam também com muita liberdade poética, o que faz com que se distanciem de uma abordagem científica mais rigorosa.

Mesmo assim, os filmes são úteis para fazer refletir sobre as viagens no tempo, aguçando a curiosidade a respeito do tema, diz a monitora. É o que acontece, por exemplo, no filme Interestelar , produção norte-americana e britânica de 2014, com direção de Christopher Nolan e estrelada por Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Matt Damon e Michael Caine.

Nesse filme, destaca Karin, são feitas referências ao chamado “buraco de minhoca” – um hipotético “atalho” no Universo que daria acesso a diferentes dimensões do tempo e do espaço. A teoria da relatividade geral permite a suposição desse “atalho”. O termo wormhole foi cunhado em 1957 pelo físico teórico norte-americano John Archibald Wheeler. Interestelar mostra uma equipe de astronautas que viaja através de um “buraco de minhoca” em busca de um novo lar para a humanidade.

Karin destaca que, atualmente, cientistas ligados à relatividade geral e à mecânica quântica se dedicam a estudar a possibilidade de transportar seres humanos para outras dimensões temporais. “Viajar no tempo é um tema antigo que sempre desperta muito interesse”, conclui.

A Sessão Astronomia, que apresentará a palestra “Viagem no Tempo”, de Karin Talisin Targas, acontece neste sábado, dia 19, às 21 horas, no anfiteatro do Centro de Divulgação da Astronomia – Observatório Dietrich Schiel, que fica na Área 1 do campus da USP de São Carlos (acesso para pedestres próximo à esquina da avenida Doutor Carlos Botelho com a rua Visconde de Inhaúma, em São Carlos). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (16) 3373-9191.

Astronomia para todos – Observações do céu e do Sol com telescópios modernamente equipados, exibições de filmes, realizações de palestras e cursos sobre astronomia são algumas das principais atividades que o Centro de Divulgação da Astronomia – Observatório Dietrich Schiel oferece à sociedade.

O Observatório faz parte do Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da USP, em São Carlos, que tem como objetivo principal aproximar da Universidade os moradores da cidade e da região, através da realização de atividades de cultura e de extensão. O CDCC é ligado à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU), ao Instituto de Física de São Carlos (IFSC) e ao Instituto de Química de São Carlos (IQSC), todos da USP.

De acordo com o diretor do CDCC, Valter Líbero, “desde a sua origem, o CDCC mantém a preocupação de ser uma interface entre a Universidade e a comunidade, promovendo a extensão universitária”. A respeito do Observatório, ele destaca que as atividades do centro já integram a agenda e a ementa de alguns cursos da rede de ensino de São Carlos e região. “Isso nos dá muito prazer, pois diversos professores e alunos participam constantemente das iniciativas promovidas.”

Cometa Halley – O Setor de Astronomia do CDCC, mais conhecido como Observatório, foi inaugurado no dia 10 de abril de 1986 – ano da passagem do Cometa Halley. O espaço recebeu o Telescópio Refrator Grubb 204/3000, de fabricação irlandesa, cedido pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.

O Observatório é um setor bastante ativo, localizado na Área 1 do campus da USP de São Carlos, onde ocupa 500 metros quadrados. No início de 2014, contou com a troca da cúpula que guarnece o seu principal instrumento: o refrator Grubb. De acordo com André Luiz da Silva, astrofísico e especialista em Ensino de Astronomia, “a obra foi essencial para a preservação da memória da astronomia no Brasil, pois esse instrumento histórico foi fabricado antes de 1925. Além disso, a modernização da cúpula, toda motorizada e feita de fibra de vidro, facilitou sua operação”.

Segundo dados de 2014, cerca de 14 mil pessoas visitaram o Observatório naquele ano. Dois segmentos distintos de público são atendidos: o escolar, por meio de visitas pré-agendadas ao longo da semana, e o chamado público espontâneo, que visita as instalações do Observatório nos finais de semana.

Com uma equipe formada em sua maioria por estudantes bolsistas, o Observatório também representa uma importante experiência profissional para os alunos. Eles adquirem habilidades necessárias ao bom atendimento às pessoas, como poder de síntese e desenvoltura para falar em público, além do próprio conhecimento astronômico, destaca Silva.

Maravilhas do céu – Atualmente, os frequentadores de observatórios didáticos como o do campus de São Carlos podem observar as maravilhas do céu por meio de diversos telescópios, que permitem ter acesso a um mundo completamente diferente do que vemos a olho nu. No entanto, há pouco mais de 400 anos, imagine-se a reação e os problemas enfrentados pelos pioneiros da observação telescópica. Galileu Galilei foi o primeiro a registrar uma ampla gama de informações sobre o que via através das lentes, dando valiosas informações que quase custaram a sua vida.


Telescópios usados para observações do céu: público curioso.
Foto: Divulgação CDCC/USP

O cientista foi tema de uma das recentes edições do programa Sessão Astronomia – realizado nos finais de semana no Observatório –, que abordou suas principais observações e descobertas, com destaque para a astronomia e para a discussão sobre como esses resultados mudaram a forma de ver o Universo.

Davi Pereira dos Santos, de 35 anos, mestre em Ciências, participou da Sessão Astronomia do dia 5 de setembro, com o tema “Mercúrio, um Planeta Distinto”, e considerou o evento bastante interessante, mesmo sendo mais direcionado a crianças, adolescentes e ao público sem acesso a estudos universitários. “Atividades como essa estimulam nosso desejo de descobrir o mundo, o que, muitas vezes, é reprimido pelo nosso sistema de educação desde cedo, pois a meta governamental parece ser formar operários”, diz Santos.

Naquele dia, os participantes puderam saber que, apesar de Mercúrio ser um dos cinco planetas brilhantes capazes de ser observados a olho nu e de sua proximidade com a Terra, sua observação e exploração espacial é um grande desafio, pelo fato de ele se esconder bem perto do Sol.

Como parte da Sessão Astronomia, uma atividade complementar às observações do céu, são apresentadas nas noites de sábado palestras sobre temas astronômicos, utilizando recursos multimídia. “As palestras proferidas por monitores são apresentadas previamente nas reuniões de equipe do Observatório, em que os membros mais experientes fazem sugestões, proporcionando um constante intercâmbio de experiências e conhecimento. Essa atividade compõe um importante diferencial na formação dos monitores, que adquirem experiência de síntese, apresentação de conteúdos para o público leigo e desenvoltura em apresentações públicas. Muitos dos monitores de graduação que passaram pelo setor seguiram a carreira de astrofísica na pós-graduação”, destaca o físico Jorge Hönel.

Outra atividade complementar é a apresentação de filmes, documentários e animações que abordam conteúdos astronômicos. A exibição acontece todos os domingos à noite, no chamado Cine Observatório. A programação mensal geralmente inclui filmes de ficção científica em cenários espaciais, documentários sobre temas astronômicos específicos e animações que contemplam o público infantil. Algumas exibições contam com debates ou comentários que abordam aspectos científicos correta ou incorretamente abordados nos filmes.

Henrique Russignoli Amaral, 26 anos, que cursa Ciências Sociais na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), foi um dos participantes da edição do Cine Observatório do dia 6, que exibiu A Conquista da Lua. Frequentador assíduo do Observatório, ele afirma que, assim como nos outros finais de semana, as atividades de que participou recentemente foram ótimas. “As ações realizadas pelo Observatório são de extrema importância para a sociedade, porque, além de dar suporte aos apaixonados por astronomia, proporcionam um primeiro contato ou incentivo para jovens e crianças.”

Fotosfera – Para aqueles que apreciam observar a beleza da Lua, das estrelas e de outros corpos celestes, uma ótima opção são as Observações do Céu Noturno, atividade que acontece às sextas, sábados e domingos, das 20 às 22 horas. O principal telescópio da instituição, o refrator Grubb, com abertura de 204 mm e distância focal de 3.000 mm, e telescópios auxiliares são disponibilizados para a observação. Monitores treinados apontam para os mais diversos alvos celestes, mencionando fatos interessantes sobre os astros. Dentre os telescópios auxiliares, destacam-se telescópios refratores Zeiss 100/1000 e 64/840 e um telescópio dobsoniano de 10 polegadas de abertura, montado por Robert G. Osborn, representante da Sidewalker Astronomers, por sugestão do próprio John Dobson, inventor dessa conhecida montagem.

Para aqueles que preferem observações e atividades diurnas às noturnas, o Observatório oferece o programa Domingos Solares, realizado no segundo e no último domingo de cada mês, em horário matutino e vespertino, respectivamente.

O evento é uma oportunidade de observar o Sol de forma segura, utilizando-se vários métodos. Telescópios especialmente equipados para a observação solar são colocados à disposição do público, permitindo que se tenha uma visão da sua camada atmosférica mais brilhante – a fotosfera. Também é possível observar algumas estruturas em forma de arco ou de penachos – as protuberâncias –, que podem ser vistas com um filtro especial chamado H-alfa.

A respeito da relevância da contribuição das ações desenvolvidas, Valter Líbero sintetiza: “Todas essas atividades do Observatório, com as demais oferecidas pelo CDCC, são realizadas com supervisão de monitores, estudantes do campus da USP em São Carlos, e fazem parte do programa de extensão universitária da USP, que procura aproximar comunidade e universidade”.

No próximo final de semana, “Viagem no tempo” será o tema da Sessão Astronomia do sábado, dia 19 de setembro, às 21 horas (leia matéria na página ao lado). No domingo, dia 20, às 20 horas, será exibido o filme As Maravilhas do Universo (primeiro episódio), além da tradicional Observação do Céu Noturno, nos dias 18, 19 e 20, das 20 às 22 horas. A próxima edição do Domingo Solar acontecerá no dia 27, das 14 às 16 horas. Todas as atividades são gratuitas e não requerem inscrições prévias.

Mais informações sobre o Centro de Divulgação da Astronomia – Observatório Dietrich Schiel podem ser obtidas na página eletrônica  www.cdcc.usp.br/cda .