25 ANOS DA MISSÃO VOYAGER

OS RESULTADOS CIENTÍFICOS DA MISSÃO VOYAGER

Palestra apresentada no dia 21 de setembro de 2002 no Observatório - Setor de Astronomia - do Centro de Divulgação Científica e Cultural da Universidade de São Paulo - Campus - São Carlos -SP., pelo monitor Eder Martioli.

A Missão Voyager consiste em duas naves idênticas, não tripuladas, que foram lançadas rumo aos planetas exteriores e depois seguirem destino além do Sistema Solar, com a finalidade de obter dados científicos para aumentarem o nosso entendimento sobre o Sistema Solar.

A primeira sonda lançada em 20 de agosto de 1977, a Voyager 2, passou pelos planetas Júpiter, Saturno, Urano e Netuno e hoje está saindo do Sistema Solar a uma distância de mais de 10 bilhões de km do Sol e a Voyager 1 que foi lançada depois, no dia 05 de setembro de 1977 já está a quase 13 bilhões de km do Sol e é o objeto mais distante construído pelo homem. As duas naves obteram dados dos planetas Júpiter e Saturno e apenas a Voyager 2 passou por Urano e Netuno. Atualmente as duas naves ainda enviam dados e esperam obter dados importantes na chamada "Missão Interestelar", que consiste no estudo do meio interestelar.

O tema principal da palestra é descrever os principais resultados científicos que proporcionaram os dados obtidos pela missão.

Abordo das naves estão um total de 10 equipamentos que realizam diversos experimentos, entre eles estão: Um espectrômetro ultravioleta, um espectrômetro infravermelho e radiômetro, um fotopolarímetro, um detector de partículas de baixa energia, um detector de raios cósmicos, um detector de plasma interplanetário, uma telecâmera de grande angular, uma telecâmera com teleobjetiva, um magnetômetro e as antenas para radio-astronomia. Para monitorar todos os dados desses experimentos estão envolvidos vários institutos de pesquisa do setor acadêmico e privativo, e como órgão principal na realização da missão, obtenção de dados e manutenção está a agência espacial americana (NASA).

Os equipamentos instalados nas naves proporcionaram uma obtenção de dados que criou uma incrível biblioteca de dados e imagens de todos os lugares que elas passaram dentro do Sistema Solar. Esses dados chegaram às mãos de pesquisadores do mundo inteiro, ajudando tanto aqueles que já tinham teorias e queriam confirmá-las quanto os que se inspiraram nos dados para novas teses, e isso gerou de centenas a milhares de artigos cintíficos, ou seja, para falarmos todos os resultados científicos da Missão Voyager que ainda vêm acontecendo, ficaríamos falando horas e horas, se não dias. Então, a idéia aqui é apenas expor brevemente apenas alguns conceitos que revolucionaram o entendimento científico do Sistema Solar devido à missão.

A primeira passagem foi pelo planeta Júpiter, o maior de todos os corpos da família Sol. As imagens geradas pelas telecâmeras foram as melhores já obtidas por qualquer outro telescópio aqui na Terra e até melhor do que as imagens obtidas pela Pioneer, isso gerou detalhes que só poderiam ser vistos num sobrevôo pelo planeta. A atmosfera de Júpiter, que podia ser vista daqui em grandes instrumento foi decifrada de forma bem mais minuciosa, todas as tempestades, os movimentos das faixas equatoriais, a composição, a evolução das manchas, enfim as digitais do planeta estavam traçadas. Outra aquisição importante foi a observação das luas de Júpiter. Sabe-se hoje que são quase quarenta luas em Júpiter, mas até aquela época esse número ainda era bem menor e o que se sabia a respeito delas era apenas a existência. Júpiter possui 4 luas muito grandes e bem interessantes, são as galileanas. Io a mais próxima delas se mostrou com uma característica bem peculiar, ela está repleta de vulcões, até então a Terra era o único lugar que se tinha informação da ocorrência de tal formação geológica. E Europa a segunda mais próxima, possui uma superfície de formação recente, aparentemente sem marcas de impactos e toda coberta de gelo fractado, isso gerou uma teoria de que Europa pode ser dotada de um imenso oceano de água líquida abaixo da sua superfície.

Outro fator interessante no planeta Júpiter foi o alto campo magnético detectado que o planeta possui, isso gerou uma interferência tão forte que quase foi motivo de insucesso para a missão. Talvez seja esse campo altíssimo que cause um efeito em Io e contribua na formação dos vulcões. A interação desse campo com as partículas do vento solar forma um cinturão de radiação em torno do planeta, assim como o cinturão de Van Allen da Terra, mas com uma intensidade muito maior.

Em uma passagem por trás de Júpiter foram tiradas fotos que permitiram a visualização de anéis, essa novidade tirou o título de Saturno com sendo o único planeta com anéis, apesar de serem muito mais tênues que os anéis de Saturno.

Na passagem por Saturno foi possível fotografar os milhares de anéis que é subdividido o grande anel do planeta que pode ser visto de pequenos telescópios aqui da Terra, ainda foram adquiridas imagens da atmosfera que, apesar de não ser tão ativa quanto a de Júpiter também possui faixas equatoriais e grandes furacões. O campo magnético ao redor do planeta também foi um dos alvos de pesquisa da voyager.

Na passagem pelo planeta dos anéis ainda foram captadas interessantíssimas imagens de suas dezenas de satélites naturais, com um destaque especial para a lua Titã que esperava-se ser vista em detalhes e só o que constataram foi uma densa camada de nuvens que cobre a lua, isso intrigou os cientistas que fizeram um estudo mais detalhado dessa lua, e o que descobriram foi uma composição atmosférica muito parecida com a nossa Terra no princípio da formação, isso é motivo suficiente para especularmos a possibilidade de formação de algum tipo de vida na lua, não fosse a baixíssima temperatura que ela se encontra.

Em Urano também foram tiradas muitas fotos e adquiridos muitos dados que compõem praticamente todo o conteúdo de nossas eciclopédias atuais. Destacamos algumas descobertas bem interessantes, tais como a inclinação de quase 90 graus do eixo de rotação do planeta com relação a perpendicular ao plano orbital, os anéis de Urano, a composição atmosférica que implica uma linda cor esverdeada ao planeta, pouquíssima atividade atmosférica devido ao frio de menos de 150 graus negativos e as muitas luas que seguem os anéis ao seu redor.

Netuno o último a ser visitado pela Voyager 2 também mostrou muitas respostas aos cientistas que antes das naves não haviam enxergado mais que um pontinho bem pálido pelos telescópios. Netuno possui muitas nuvens na sua alta atmosfera formada por cristais de amônia, e ainda possui uma grande mancha escura que é na verdade um grande furacão. Suas luas são todas muito pequenas, mas em especial uma delas chamou a atenção, Tritão, que já havia sido observado por telescópios sem muitos detalhes ficou marcado pelo sua tênue atmosfera e pelos gaisers que ejetam nitrogênio a grandes altitudes. Outro fato interessante é que Tritão gira em torno de Netuno em uma órbita retrógrada, o que levou a uma teoria de que ele é, provavelmente, um outro planeta que foi capturado pela gravidade de Netuno. Netuno assim como os outros três gigantes gasosos também possui anéis, isso mostra que a ocorrência de anéis é um fato normal em planetas gigantes gasosos.

Depois de Netuno o que resta para as voyagers é o que chamamos de Missão Interestelar, que consiste na obtenção de dados além da órbita dos planetas. Por enquanto as naves ainda estão adquirindo dados da região de interferência do Sol, porém espera-se que essas naves cheguem em pleno funcionamento a heliopausa, que é o limite de ação do vento solar, onde já começa sentir os efeitos de uma outra estrela, porém esse é um efeito muito fraco nessa região, e, por nunca termos atingido com nenhuma outra nave essa distância não sabemos ao certo quando irá chegar.

Os equipamentos das naves não estão perfeitos, mas ainda são suficientes para muitas pesquisas. Suas obtenções ainda estarão por muito tempo trazendo novas teorias e confirmações a medida que a ciência for progredindo.