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Educação em Ciências

Ensino de Ciências na Educação de Jovens e Adultos

“ABC na Educação Científica”

Ernst Hamburger1 (orientador)*, Sandra Regina  Mutarelli Setúbal2 smutarelli@uol.com.br, José Luiz Egydio Setúbal3, Sofia Rios de Mattos Barretto4, Claudia Regina Moreira Pinto5, Maurício Nisiyama6, Régis Yassuda Sugaya7

1, 2 – Estação Ciência-USP, SP; 3, 4, 5, 6 e 7 – Escola Vera Cruz, SP. 

INTRODUÇÃO: Atualmente o Brasil tem como maior desafio o resgate da imensa dívida social produzida ao longo de sua história. A educação como instrumento de transformação social é uma alavanca fundamental na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A educação de Jovens e Adultos se insere nesta perspectiva de resgate, de reparação, de propiciar oportunidades de desenvolvimento para jovens (maiores de 18 anos) e adultos (incluindo-se idosos), desde a alfabetização até inclusão digital e acesso a bens culturais, cuja a existência só faz sentido quando puderem ser compartilhados entre todos os cidadãos indiscriminadamente e não como instrumento de perpetuação da opressão e desigualdade entre os homens. O direito à educação é um direito humano fundamental como a vida, a liberdade, a igualdade. O Brasil é signatário da Declaração de Hamburgo sobre a Educação de Adultos e assim sendo, cabe ao Estado, à sociedade, implementar ações que viabilizem as intenções previstas nas declarações, na constituição, nas leis. O ensino de ciências naturais como estratégia no processo de aquisição de conhecimentos básicos de escrita e matemática na educação para jovens e adultos é o tema do presente trabalho, bem como o papel da universidade na formação de educadores aptos a participar deste processo. Nesse projeto os alunos observam um objeto ou fenômeno do mundo real, próximo, sensível e experimentável. No decurso de suas investigações, os alunos argumentam e raciocinam, colocando e discutindo suas idéias e resultados, construindo, assim, seu conhecimento. Sendo importante ressaltar que para se atingir esse objetivo as atividades manuais não são suficientes. As atividades propostas aos alunos são organizadas pelos professores em uma seqüência tal que pode ser observada uma progressão de aprendizados. Tais atividades envolvem conteúdo relevante e são responsáveis, em grande parte, pela autonomia adquirida pelos alunos. Um volume mínimo de duas horas semanais é dedicado a um mesmo tema pendente por várias semanas. A continuidade dos métodos pedagógicos é assegurada pelo conjunto das atividades escolares. Os alunos têm, cada um, um caderno de experimentos onde registram suas observações com seus próprios recursos. A partir desse caderno os conteúdos e anotações coletivas irão ser negociados coletivamente sob a orientação do professor. O objetivo principal é uma apropriação progressiva, por parte dos alunos, de conceitos científicos, técnicas operatórias acompanhadas de uma consolidação da expressão  escrita e oral. 

METODOLOGIA: O curso de Jovens e Adultos desenvolvido na Escola Vera Cruz utiliza a mesma dinâmica do projeto francês: a aula se inicia com o levantamento de um problema, por exemplo: o que faz o gelo derreter?, a ser investigado. Durante essa etapa os alunos levantam o que já sabem, como por exemplo, que o gelo é constituído de água e que ao derreter resulta em água líquida e o que supõem que o gelo irá derreter dentro de uma malha de lã ou dentro de um copo com água quente. Em seguida, os alunos partem para a verificação experimental das hipóteses levantadas. Os alunos registram suas observações e se preparam para a discussão coletiva. Na discussão coletiva, os alunos chegam a conclusões sobre o tema central – que o calor é o que faz o gelo derreter – e de que maneira devem organizar seus dados, em tabelas, textos, gráficos. Essa discussão sempre acontece através de um acordo coletivo a partir das conclusões e registros individuais a respeito do experimento. 
Depois do acordo coletivo os alunos fazem uma síntese escrita que envolve a descrição de todas as etapas do processo: desde o levantamento do problema até as conclusões. 
Esse registro é trabalhado com a professora de português que, no caso dos adultos, é diferente da professora de ciências. Depois de quatro temas trabalhados, os alunos organizam um pequeno congresso, para apresentar através de cartazes e apresentação oral, o que aprenderam em ciências e como aprenderam. Esta apresentação é feita para a classe e a professora de português. Ao final da apresentação, a professora de português irá trabalhar quais aspectos devem ser melhorados nas expressões oral e escrita. 

RESULTADOS: A implementação desse projeto no curso noturno de Jovens e Adultos apresentou uma série de benefícios para o desenvolvimento dos alunos. O desinteresse e apatia inicial foram substituídos pela ousadia e participação. Os alunos inicialmente assustados com o curso de ciências passaram a freqüentar as aulas com maior assiduidade. Esse dado para o curso noturno é bastante significativo, pois cursos de ciências anteriormente ministrados eram quase que nada freqüentados. Outro ganho foi o do comprometimento com a aprendizagem e o cuidado com o registro, uma vez que  esse material será utilizado pela professora de português. 

CONCLUSÕES: O projeto desenvolvido para crianças foi adaptado para o EJA (Ensino de Jovens e Adultos) com muito êxito, pois despertou nos jovens e adultos interesse pela ciência, consciência da necessidade de se expressar bem oralmente e através da escrita. Acreditamos que essa semente plantada poderá alavancar o ensino de ciências como ferramenta poderosa na estruturação do EJA em outras instituições. 

54ª  Reunião Anual da SBPC - Goiânia, GO - Julho/2002 



 

 

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Centro de Divulgação Científica e Cultural - CDCC - USP

ABC na Educação Científica - Mão na Massa