PARTE III - A
MORTE DAS ESTRELAS
Fig. 3.1 - Resto de uma Supernova na Constelação de Cygnus
Nos artigos anteriores
a história de como, nas grandes nuvens que voam pela
Galáxia, se condensam gotículas de bilhões de
quilômetros: as proto-estrelas. Vimos como se recolhem em brilho
intenso e como, por múltiplos caminhos as estrelas geram em seu
ventre a massa de um novo universo.
Neste artigo, será visto como chegam
ao seu inescapável destino de, na hora da agonia mortal, dar
à luz (ou às trevas) um filho que não
repetirá sua história, não será uma
estrelinha.
As mortes podem ser várias, o filho
só pode ser um destes três:
a) uma boca escura, esférica, atenta
a todas as direções, pronta a tragar estrelas inteiras,
com sua massa e sua luz. Seu estômago fica fora do universo em
que estamos. Quanto mais come, maior sua voracidade e mais aumenta sua
boca: são os Buracos Negros. como
serão por dentro?
b) um núcleo atômico gigante,
com a massa do Sol comprimida em 10 Km. ele vai girar várias
vezes enquanto você pronuncia seu nome: Estrela de Neutrons!
c) as estrelas pequeninas morrem devagar, se
encolhem num Sol de cristal do tamanho da Terra: as Anãs Brancas.
ESTÁGIOS AVANÇADOS DA
EVOLUÇÃO ESTELAR
A energia liberada pela fusão dos
núcleos atômicos no interior das estrelas gera a
pressão necessária para manter toda a massa de gás
em equilíbrio contra a compressão gravitacional. Parte da
energia é irradiada em forma de luz visível. as estrelas
de pequena massa queimam lentamente o Hidrogênio e nunca
atingirão temperaturas suficientemente altas para iniciar a
queima de Hélio. Para queimar elementos mais pesados são
necessárias temperaturas mais elevadas. Por exemplo, para os
elementos químicos de massa atômica igual a 50, estas
temperaturas são da ordem de 4x109 K. Temperaturas mais elevadas
que esta favorecem os processos de foto-desintegração,
dificultando a fusão dos núcleos pesados. Isto leva a uma
maior abundância dos núcleos de maior estabilidade (maior
energia de ligação por núcleos), gerando uma maior
porcentagem de núcleos atômicos de elementos
químicos próximos ao Fe56 em relação aos
vizinhos (chamado o pico de Ferro). desta forma, à medida que a
estrela constrói elementos químicos mais pesados, a
geração de energia por fusão se torna mais
ineficiente. O que ocorre com a estrela quando acaba sua fonte de
energia?
Sem fonte de energia a massa estelar
é comprimida até atingir densidades elevadas. Nessas
condições, a equação de gás perfeito
(2.6) não mais descreve o comportamento da matéria e
temos que construir outra. Para isto, temos que elaborar modelos
levando em conta o tipo de interação dominante entre as
partículas, para cada densidade. A partir dos anos 30, foram
construídas equações de estado para a
matéria densa, considerando os efeitos quânticos por
Landau, Oppenheimer, Volkoff, Chandrasekhar e outros, que conseguiram
não só dar conta dos fatos observacionais conhecidos na
época (Anãs Brancas, núcleos de estrelas), como
prever a existência de situações extremas só
postas em evidência pelas observações recentes.
Se a aceleração da gravidade
for muito elevada, o campo gravitacional descrito pela teoria de Newton
não é mais uma aproximação
satisfatória e torna-se necessário utilizar a teoria da
Relatividade Geral de Einstein. O conhecimento dos produtos da
evolução estelar está, portanto, envolvido com as
refinadas elaborações da Física: a Mecânica
Quântica e a Relatividade. Todavia, a ocorrência
simultânea de inúmeros processos físicos nestas
situações torna vagaroso o progresso dos modelos. Por
outro lado, o progresso das técnicas observacionais tem sido
extremamente rápido nos últimos anos e os dados já
se amontoam e exigem técnicas de processamento mais
rápidos. As Anãs Brancas são hoje bastante
conhecidas, a existência de Estrelas de Neutrons foi posta em
evidência há mais de 10 anos e os objetos
astronômicos suspeitos de ocultarem Buracos Negros são
incessantemente observados no solo e em satélites, em todas as
faixas de ondas eletromagnéticas: dos raios g às ondas de
rádio.
CONFIGURAÇÕES COMPACTAS DA
MATÉRIA
1. Anãs Brancas
A descoberta de 40 Eridani B, em 1910,
deixou os astrônomos muito intrigados: sua posição
no diagrama H-R se situava muito abaixo da seqüência
principal, sendo, pois, pouco luminosa e seu raio era cerca de 100
vezes menor que o do Sol. Por causa de seu pequeno raio e sua cor
branca este tipo de estrela foi chamado de Anã Branca. Logo a
seguir foram identificadas mais 2 Anãs Brancas: VA Maanem 2 e
Sirius B e, hoje, são bem conhecidas as propriedades de mais de
200 Anãs Brancas de nossa Galáxia. A existência de
uma companheira invisível de Sirius já havia sido
indicada no século passado (1844), por Bessel, através de
uma perturbação na posição desta estrela.
De fato, em 1862, Clark conseguiu identificar a companheira milhares de
vezes menos brilhante que Sirius, situada na posição
prevista teoricamente. O raio de Sirius B é 4200 Km e sua
densidade:
(3.1)
você pode ver que 1 litro dessa
matéria tem uma massa de 70 toneladas. Que tipo de
matéria pode suportar a compressão de uma massa igual
à do Sol num volume quase igual ao da Terra?
a estas densidade os núcleos
atômicos se aproximam a tal ponto que seus estados ligados
não são mais independentes dos núcleos vizinhos.
Os elétrons ocupam os níveis de energia obedecendo ao
princípio de exclusão de Pauli. Os elétrons nos
estados mais elevados de energia (maior momentum) contribuirão
fortemente para a pressão. As partículas alfa
(núcleos de He) não formam um meio degenerado e sua
contribuição para a pressão é
desprezível frente a do mar de elétrons degenerados.
Da equação de estado para esta
forma da matéria, se deduz que, quanto maior a massa, menor o
raio e que existe uma massa limite, acima da qual a densidade é
infinita e o raio é nulo. Esse ponto é chamado de limite
de Chandrasekhar e vale 1.4. Uma massa maior que este limite não
poderia ser mantida em equilíbrio pelos elétrons
degenerados e a estrela entraria em colapso. Haveria um outro estado da
matéria capaz de estabilizar massas estelares ainda mais
compactas que esta? É o que veremos no próximo
tópico.
Agora, faça a seguinte
consideração: Sirius B é menos massiva que sua
companheira brilhante, que está na Seqüência
Principal, entretanto, ela (Sirius B) é muito mais evolucionada.
Como se explica este enigma? Esta questão se coloca
também para muitos sistemas de estrelas duplas.
A atmosfera das Anãs Brancas tem
apenas cerca de 100 m de espessura e suas temperaturas estão
compreendidas na faixa de 5000 K a 10000 K. As diversas temperaturas
são explicadas pelo resfriamento, que é muito lento,
levando 10 bilhões de anos (a idade do Universo) para atingir
3000 K. A partir desta temperatura, a luminosidade da estrela é
tão baixa que é chamada de Anã Negra. Este seria o
destina da grande maioria das estrelas de nossa Galáxia, que
é formada em sua maior parte por estrelas menores que o Sol.
Como seria o aspecto da Via Láctea daqui a 100 bilhões de
anos?
2. Estrelas de Neutrons
Se a densidade de uma estrela aumentar ao
ponto em que os elétrons cheguem muito perto dos prótons,
estas partículas reagiriam segundo a equação:
(3.2)
ou seja, um próton absorve um
elétron, transformando-se em neutron e emitindo um anti-neutrino
(que escapa quase livremente drenando energia para fora da estrela).
Numa massa de matéria tão
compacta, as interações entre os neutrons são
consideráveis.
A uma dada densidade, os neutrons formam um
estado degenerado, podendo gerar a pressão suficiente para
conter o colapso. Esta nova configuração estável
é chama Estrela de Neutrons. A densidade em que isto ocorre
é da ordem da densidade dos núcleos dos átomos: 1015
g/cm3. Para calcular a estrutura de uma estrela deste tipo temos que
construir a equação de estado adequada, levando em conta
todas as interações dominantes entre todos os tipos de
partículas existentes. A figura abaixo mostra várias
curvas no diagrama massa versus densidade central para várias
equações de estado.
Fig. 3.2 - Curvas correspondentes às equações de
estado para Estrelas de Neutrons
A curva H corresponde ao caso extremo em que
os neutrons seriam livres e não interagentes entre si. A curva
I, ao caso extremo, em que a interação entre os neutrons
é máxima possível (neste caso a velocidade do som
é igual à da luz no meio). As curvas de A a G
correspondem a situações intermediárias, levando
em conta reações nucleares entre várias
partículas elementares, como S , L , e, p, n, m , etc.. Note
como, para todos os casos existe um limite superior para a massa. O
limite supremo são de todas as curvas é 2.4 . Não
deve haver, portanto, Estrelas de Neutrons mais massivas que isto. e se
uma estrela passar pelo estágio de neutrons degenerados contendo
mais de 2.4,
o que ocorrerá? Novo estado da matéria capaz de
estabilizar a estrutura? Isto veremos no próximo tópico.
Uma Estrela de Neutrons com 1 tem um raio
de apenas 10 Km. Ela tem uma crosta cristalina de centenas de metros e
uma atmosfera de alguns centímetros de espessura. A gravidade na
superfície é de 100 bilhões de vezes à da
superfície da Terra, de modo que suas mais altas cordilheiras
(irregularidades na crosta) atingem apenas alguns centímetros de
altura. Quando a estrela se contrai, a energia armazenada no campo
magnético deve se conservar, assim o produto da intensidade do
campo magnético pela superfície deve permanecer
constante. O campo magnético na superfície de uma Estrela
de Neutrons deve ser bilhões de vezes maior que o de uma estrela
normal. Hoje são conhecidos cerca de 150 rádio-pulsares e
dezenas de fontes de raios X que devem estar associados a estrelas de
neutrons.
3. Buracos Negros
Uma estrela que morre com uma massa maior
que 2.4
não consegue produzir nenhum tipo de matéria capaz de
contrabalançar a compressão gravitacional e evitar o
colapso. A Teoria da Relatividade Geral prediz que os fótons
interagem com o campo gravitacional. A aceleração a que
são submetidos faz com que sua trajetória seja curva
quando o ângulo entre o feixe de luz e a direção da
aceleração não é nulo. Eles perdem energia
quando viajam contra o sentido do vetor de aceleração e
ganham quando viajam no mesmo sentido. Na teoria Newtoniana, a
aceleração de gravidade é dada por:
(3.3)
e o vetor aponta para o centro da estrela.
Imagine agora, a seguinte
situação: você está na superfície da
estrela em contração, apontando o feixe de luz de uma
lanterna numa direção qualquer, não vertical. Ele
descreverá uma linha curva. Maior a contração,
maior a gravidade na superfície, mais curva a trajetória
do feixe. A um dado estágio da contração, a
gravidade será tão forte que o feixe espirala em torno da
estrela até recair na superfície. Para lançar o
feixe para fora da estrela você deverá apontar o feixe
para dentro de um cone imaginário, cujo eixo coincide com a
vertical ao ponto de emissão da luz. Quanto maior a
aceleração da gravidade, menor será a abertura
desse cone, tendendo a zero.
Imagina agora, que a luz da lanterna
é da cor azul e você a mantém apontada na vertical.
Como será vista por um amigo que está observando
você a uma grande distância? A energia do fóton
é dada por :
(3.4)
onde:
h é a velocidade de Planck
c a velocidade da luz
l o comprimento de onda
f a freqüência da radiação
À medida que aumenta a aceleração da gravidade,
com a contração, maior o gasto de energia de fóton
para vencer o campo de gravidade e menor a sua energia final. Pela eq.
(3.4) você pode deduzir que seu amigo verá a lanterna que
você tem na mão ficar verde, passar para amarelo, vermelho
e desaparecer no infravermelho. Se ele tiver um radio telescópio
poderá acompanhar os estágios seguintes da
contração da estrela em que você está.
Estes efeitos já foram medidos nas
vizinhanças do Sol, pelo desvio aparente da
posição de estrelas durante os eclipses totais do Sol
(1919) e pelo deslocamento para o vermelho de linhas espectrais
emitidas na atmosfera de Anãs Brancas.
Todos estes fatos têm um
análogo na teoria da gravitação de Newton, se
considerarmos a trajetória de projéteis balísticos
no lugar de fótons, ou imaginarmos que os fótons
são corpúsculos materiais. A analogia é tão
produtiva que serviu para Laplace, em 1796, prever que os corpos mais
massivos do Universo são escuros e não brilhantes. Para
isto ele calculou que, a partir de uma dada massa, a gravidade seria
tão grande que a velocidade de escape de uma partícula
seria maior que a da luz. Assim, esses monstruosos astros engoliriam a
própria luz que emitem.
Haveria um estágio da
contração em que a energia do fóton que escapa
fosse nula (freqüência nula, comprimento de onda infinito)?
Aqui, a analogia clássica deixa de dar pistas corretas e
passamos de novo para a Teoria da Relatividade Geral. A
solução das equações do Campo Gravitacional
descritas por Einstein (1915) foi obtida em 1916 por um general
austríaco: Schwarzchild. De acordo com essa teoria, a
aceleração da gravidade se escreve:
(3.5)
Note que, para r muito grande esta
expressão se reduz à (3.3). Note também que em
(3.5), para
(3.6)
ocorre uma "singularidade": a gravidade
se torna infinita. Este é chamado raio de Schwarzchild e seu
sentido é que, nada, nem mesmo a luz pode escapar da estrela,
quando emitida no interior de uma esfera de raio rs . Neste
estágio de contração temos, pois um Buraco Negro.
O raio de Schwarzchild delimita, pois, uma esfera de dentro da qual
não sai nenhuma informação. Os únicos
parâmetros que podemos determinar do buraco negro são: a
massa, o campo elétrico e a rotação. É
óbvio que tudo que atinge esta superfície limite,
também chamada horizonte de eventos, não retornará
a este Universo em que nos movemos.
Atualmente, em alguns sistemas de estrelas
duplas, uma das componentes é compacta, e tem massa bastante
acima do limite teórico de 2.4 , e que são pois
suspeitos de serem buracos negros.
A figura 3.3 mostra as
relações de raios para uma massa igual à do Sol,
se ela passasse por todos os estágios de evolução,
até tornar-se um Buraco Negro.
Fig. 3.3 - Relação de raios para 1 em
vários estágios de compressão.
Teoricamente, podem existir buracos negros
de qualquer massa (e portanto raio). Como poderiam ser formados Mini
Buracos Negros com massas tão pequenas como a de alguns
prótons, por exemplo? Certamente não seria pela
evolução de uma estrela. No início do Universo as
densidades eram tão elevadas que não há
impedimento teórico para que eles pudessem ter se formado.
Não há também limite
superior para a massa de um Buraco Negro. Maxi-Buracos Negros podem ser
formados, por exemplo, pelo acréscimo de massa a Buracos Negros
preexistentes. Note que a densidade de uma mexi Buraco Negro pode ser
muito baixa, menor que a da água, como imaginava Laplace (fig.
3.4). Nós poderíamos estar tranqüilamente instalados
dentro de um mexi Buraco negro sem nos darmos conta de que jamais
sairíamos dali. Poderia o Universo inteiro ser um Buraco Negro
enorme, com estrelas, galáxias; e tudo mais dentro dele? Como
podemos observar um Buraco Negro se ele não emite luz?
Fig. 3.4 - Gráfico massa x densidade para corpos autogravitantes.
ASPECTOS OBSERVACIONAIS
1. As Supernovas
Observando outras galáxias, às vezes os astrônomos
notam que de uma noite para outra aparece uma estrela que, sozinha,
brilha tanto quanto todas as outras bilhões de companheiras
juntas, ou seja, alguns bilhões de vezes mais que o Sol.
Há ejeções de matéria a velocidades de
10000 km/s. A luminosidade cai rapidamente, de modo que, a cada
mês 1/10 da do anterior. A emissão total de energia
durante a vida média da supernova é da ordem de 1051
ergs. Todos os anos uma dúzia delas são registradas em
outras galáxias.
Há 2 tipos de Supernovas:
TIPO I: Ocorre em galáxias
elípticas e nas regiões do halo de galáxias
espirais, formando um grupo muito homogêneo. Elas devem estar
associadas a estrelas velhas e de massas próximas à do
Sol, pelo tipo de população em que costumam ocorrer.
TIPO II: O aumento de luminosidade é
maior que no caso anterior, mas o conjunto é muito pouco
homogêneo. Estas Supernovas ocorrem em regiões das
galáxias ricas em estrelas de massa elevada. Os modelos indicam
que, neste caso, cerca de 1 é ejetada na explosão.
Os modelos usados para explicar estes tipos
de Supernovas são:
TIPO I: Na evolução de um
sistema binário (2 estrelas), uma delas evolui mais rapidamente,
tornando-se uma Anã Branca. Quando a outra evoluir, ela
perderá massa, que será capturada pela Anã Branca,
fazendo-a ultrapassar sua massa crítica. Nesse estágio a
Anã Branca explodirá em forma de Supernova,
transformando-se em Estrela de Neutrons podendo emitir raios X, como
é observado em vários sistemas duplas contendo uma
estrela deste tipo.
TIPO II: Quando uma estrela de mais de 4 atinge a
fase em que se desenvolveu um núcleo de Ferro, acaba sua fonte
de energia. A massa estelar comprimida pela gravidade cai em queda
livre sobre o caroço de ferra, havendo grande
dissipação de energia. Nestas circunstâncias a
temperatura e a densidade são tão elevadas que são
produzidos elementos químicos mais pesados que o Ferro, em
pequenas quantidades (de fato, a abundância destes elementos no
Universo é bem menos que a do Ferro). Os neutrinos produzidos no
núcleo são muito energéticos e, ao serem
reabsorvidos pelas camadas de gás que circundam o núcleo
as explodem, espalhando-as pelo meio interestelar. Este é o
mecanismo pelo qual se imagina terem sido formados os elementos
químicos pesados que conhecemos. Se a massa da estrela estiver
entre 4 e 8
o núcleo pode se transformar em uma Estrela de Neutrons.
Estrelas maiores produzirão Buracos Negros.
As energias envolvidas na explosão
são suficientemente elevadas para acelerar os núcleos
atômicos ionizados até velocidades elevadíssimas.
Este é um dos mecanismos possíveis de
produção e aceleração dos Raios
Cósmicos de altas energias que atingem a Terra, vindos de todas
as direções.
Desde o começo do século foram
registradas cerca de 400 Supernovas em outras galáxias. Na nossa
galáxia há registros antigos de 7 Supernovas. Algumas
delas foram vistas durante o dia, por semanas seguidas e à noite
durante meses, a olho nu.
Supernovas Históricas
ANO |
CONSTELAÇÃO |
REGISTRO |
185 |
Centauro |
Chineses |
393 |
Escorpião |
Chineses |
1006 |
Lobo |
Chineses, Japoneses, Europeus,
Árabes |
1054 (*) |
Touro |
Chineses, Japoneses |
1181 |
Cassiopéia |
Chineses |
1572 (**) |
Cassiopéia |
Chineses, Coreanos, Europeus |
1604(***) |
Ofiúco |
Chineses, Coreanos, Europeus |
(*) - A conhecida Nebulosa do Caranguejo
(fig. 3.6)
(**) - Observada por Tycho Brahe
(***) - Observada por Kepler
Fig. 3.5 - Localização das Supernovas Históricas.
(Galáxia vista de perfil)
Os restos de muitas Supernovas ainda podem
ser vistos em nossa galáxia (cerca de 2 dúzias).
Fig. 3.6 - A Nebulosa do Caranguejo
Há mais de 300 anos não se
registra nenhuma explosão de Supernova em nossa galáxia.
Terá explodido muito longe, do outro da galáxia, na
direção do centro, onde as nuvens de poeira interestelar
são muito densas? Explodirá em breve? São as
incertezas da Estatística.
2. Os Pulsares
O primeiro pulsar foi descoberto em 1967, por acaso. O período
de pulsação em ondas de rádio era de 1.3373011
segundos, e era tão regular como o mais estável
relógio da Terra na época.
Até o momento foram descobertos cerca
de 300 rádio-pulsares, com períodos variando de
centésimos de segundo a 4 segundos. O Pulsar de Caranguejo tem
as características abaixo relacionadas:
r = 33.0955639268 ± 0.0000000037 milisegundos
(3.7)
nanosegundos/dia
(3.8)
A expressão (3.8) é de
aumento do período
Fig. 3.7 - Pulsos do Pulsar do Caranguejo em todas as faixas do
espectro eletromagnético
Fig. 3.8 - Imagem estroboscópica do pulsar do Caranguejo obtida
com uma câmara de TV acoplada ao telescópio.
A figura 3.8 é muito sugestiva: uma
estrela que se acende e se apaga 30 vezes por segundo!! Já vai
longe a época em que se aventava a hipóteses de os
pulsares serem sinais de vida extraterrestre.
A região que emite o pulso não
pode ter dimensão (l) maior que o caminho percorrido pela luz no
tempo igual à duração do pulso (Dt):
(3.9)
Para o Pulsar do Caranguejo isto leva a
um tamanho de apenas 1000 Km, típico de um corpo compacto, como
os que descrevemos neste artigo.
Por várias
considerações, que aqui é muito longo de retomar e
você pode encontrar na revista Scientific American (Janeiro de
1971), o único modelo de pulsar que resistiu aos testes
observacionais é o seguinte:
O eixo de rotação da estrela
de neutrons não passa pelos pólos magnéticos, como
é o caso da Terra. O campo magnético é como o de
um ímã gigante, com 10 bilhões de gauss na
superfície da estrela. As partículas ionizadas circulam
em torno das linhas de campo magnético e são conduzidas
para os pólos magnéticos (como no caso das auroras
boreais aqui na Terra) onde se chocam com a superfície da
estrela. A energia dissipada é emitida em forma de
radiação eletromagnética. Veja o esquema na fig.
3.9.
Fig. 3.9 - Modelo para os pulsares
A radiação é emitida em
dois cones, nos pólos magnéticos da estrela. Ao girar, os
cones de radiação varrem o espaço, atingindo,
eventualmente, a Terra, como um farol marítimo que atinge um
navio na escuridão.
A energia emitida vem, em última
instância, da rotação da Estrela de Neutrons.
Assim, o pulsar se desacelera, tendo seu período aumentado. Um
fenômeno parecido com um terremoto terrestre ocorre nas estrelas
de neutrons, quando sua crosta se rompe para se acomodar a um
período de rotação maior. Isto é observado
como um brusco salto do período de pulsação, em
meio à contínua variação do período.
Existe um rádio-pulsar em um sistema
binário, porém, a determinação das massas
é dificultada por ser a outra estrela também compacta.
3. Fontes de Raios X em Sistemas
Binários
Na década de 60 foram detectadas algumas fontes de raios X por
balões e foguetes de grande altitude, pois a atmosfera absorve
os raios X. Com o lançamento do satélite artificial UHURU
em 1970, em algumas horas a massa de dados superou todas as
observações acumuladas anteriormente, na curta
história da astronomia de raios X. Uma dezena de
satélites esteve vasculhando o céu à procura de
fontes de raios X na década de 70. A caixa de erra da
localização de fonte X atingia mais de dez minutos de
arco. Em fins de 1979 entra em operação o primeiro
telescópio de raios X montado no satélite artificial
HEAD-A, mais conhecido por "Einstein". O salto na
resolução espacial obtida com este telescópio
(dois minutos de arco) é comparável ao salto de
resolução obtida com as primeiras lunetas, frente
às observações a olho nu.
Muitas das fontes X estão associadas
também a fontes ópticas. Uma das formas de identificar a
correspondente fonte visível é procurar astros que
estejam dentro da caixa de erro da fonte X e que apresentem
variações ópticas coerentes com as
variações em raios X. Mais de uma dezena de fontes X
puderam assim, ser identificadas como pertencentes a sistemas de
estrelas duplas, onde uma das componentes é uma estrela
brilhante normal. Nestes sistemas podemos medir as massas das
componentes.
Na figura 3.10 apresentamos um esquema de
como se produz a emissão X: a massa perdida pela estrela normal
é atraída pela componente compacta. A matéria
capturada pelo campo gravitacional da estrela compacta se choca com a
sua superfície e a energia é dissipada, emitindo
radiação X. Para atingir as temperaturas em que a
emissão predominante é na faixa dos raios X, a componente
compacta deve ser uma Estrela de Neutrons.
Fig. 3.10 - Modos de acresção de massa em sistemas
binários de raios X
Algumas fontes de raios X têm
pulsações periódicas, como no caso mostrado na
figura 3.11.
Fig. 3.11 - Pulsação de 4.8 segundos da fonte Centauros
X-3
A pulsação em raios X nos leva
a fazer uma analogia com o processo de emissão dos
rádio-pulsares, reafirmando a idéia da existência
de Estrelas de Neutrons. De fato, todas as massas de componentes
compactas medidas em sistemas binários de raios X são
compatíveis com as massas previstas para Estrelas de Neutrons.
Uma gritante exceção é Cygnus X-1, onde a massa da
componente escura é de 11 , muito maior que o limite de Chandrasekhar
(2.4) e
muito maior que a massa de sua companheira brilhante. Este é o
argumento mais forte para suspeitar que Cyg X-1 é um Buraco
Negro. Além disso, as flutuações irregulares na
emissão X de Cyg X-1 são as mais rápidas
conhecidas no Universo: 1 milésimo de segundo. Na figura abaixo
apresentamos, em corte, um modelo do perfil do disco de matéria
que circunda Cyg X-1, de onde proviria a emissão de raios X.
Fig. 3.12 - Modelo teórico do disco de acresção em
torno de um Buraco Negro
4. Novas
Novas são estrelas cuja luminosidade aumenta de dezenas de
milhares de vezes em algumas horas. Na nossa galáxia são
observadas 2 ou 3 por ano, mas, pelas estatísticas de Novas em
outras galáxias, devem ocorrer 50 Novas por ano em nossa
galáxia. A energia total emitida (1044 - 1045 erg) é
muito menor que no caso das Supernovas. As velocidades de
ejeção de matéria, 1000 Km/s, também
são muito menores que no caso das Supernovas.
Algumas ex-Novas estão associadas a
sistemas binários de curtos períodos. Por outro lado,
algumas Novas voltam a irromper de tempos em tempos.
O modelo mais atraente para explicar a
ocorrência de Novas é semelhante à parte superior
da figura 3.10, mas a estrela compacta seria uma Anã Branca. O
súbito acréscimo de massa na Anã Branca provoca
uma dissipação de energia e conseqüente aumento de
temperatura tal que ocorre a fusão do Hidrogênio. A
combustão explosiva do H lança matéria para fora
do sistema, produzindo as nebulosidades que freqüentemente
aparecem em torno das Novas próximas de nós.
5. Nebulosas Planetárias
As nebulosas planetárias têm
esse nome porque, nos telescópios em que foram vistas pela
primeira vez, apresentavam um aspecto visual semelhante ao de um
planeta. No centro de muitas Nebulosas Planetárias podemos ver
ainda uma estrela azul, que ejetou o gás, como na figura 3.13.
Fig. 3.13 - A Nebulosa Planetária NGC 7293 ou Nebulosa de Helix
da Constelação de Aquarius
O fato de a nebulosa da figura 3.13 aparecer
como uma coroa circular é um efeito de projeção da
esfera de gás semitransparente que envolve toda a estrela
central.
As nebulosas planetárias se formam nas fases
posteriores ao estágio de gigantes vermelhas, originadas por
estrelas de pequena massa (M<4). Ao se resfriar, a estrela central
da Nebulosa Planetária se torna uma Anã Branca. A figura
3.13 é semelhante ao que se espera da morte do Sol, daqui
vários bilhões de anos.
Autores
- Augusto Damineli Neto - IAG/USP
- Francisco José Jablonski - ON/CNPq
Versão para HTML - Jorge Hönel
CDA - CDCC - USP/SC - 14/01/1999